Os fundamentos da escatologia do AT
Isaías 26: 19-21; Daniel 2: 44-45
19Os mortos do nosso povo voltarão a viver; os seus corpos ressuscitarão. Os que estão no mundo dos mortos acordarão e cantarão de alegria. Como o orvalho que tu envias dá vida à terra, assim de dentro da terra os mortos sairão vivos.20Meu povo, vão para as suas casas e tranquem as portas; escondam-se por algum tempo até que passe a ira de Deus.21Porque o SENHOR Deus virá da sua morada, no céu, a fim de castigar os moradores da terra por causa dos seus pecados. Pois a terra não esconderá mais os que foram mortos, mas deixará que apareçam todos os crimes de sangue. (Is 26:19-21, NTLH)
44No tempo desses reis, o Deus do céu fará aparecer um reino que nunca será destruído, nem será conquistado por outro reino. Pelo contrário, esse reino acabará com todos os outros e durará para sempre.45É isso o que quer dizer a pedra que o rei viu soltar-se da montanha, sem que ninguém a tivesse empurrado, e que despedaçou a estátua feita de ferro, bronze, prata, barro e ouro. O Grande Deus está revelando ao senhor o que vai acontecer no futuro. Foi este o sonho que o senhor teve, e esta é a explicação certa. (Dn 2:44-45, NTLH)
“Os vossos mortos e também o meu cadáver viverão e ressuscitarão” Is 26:19ª.
INTRODUÇÃO
A escatologia desperta profundo interesse não apenas de todos os que aguardam com ansiedade a volta de Cristo, mas também daqueles que procuram prever os fatos que acontecerão no fim dos tempos.
Vivemos os dias finais, preditos por Jesus. Não sabemos quando ele voltará para buscar sua Igreja, mas precisamos preparar-nos para o encontro com o Salvador. No estudo de hoje, estudaremos sobre os fundamentos da escatologia nas páginas do Antigo Testamento.
Alguns dos temas que estudaremos na escatologia são: morte, imortalidade da alma, estado intermediário, segunda vinda de Cristo, milênio, ressurreição, juízo final e estado eterno.
Há diversos posicionamentos teológicos quanto aos temas da escatologia. Os pontos de vista, ainda que divergentes, serão citados para que você possa conhecer os diferentes ângulos sob os quais o tema é abordado.
I. ENSINOS SOBRE MORTE E RESSURREIÇÃO
a)A morte. No Antigo Testamento, a morte é mais que a cessação da vida física. Ela pode referir-se a qualquer coisa que ameace ou enfraqueça a vida ou a vitalidade, como o pecado. A morte é mostrada como realidade incontestável para todos os homens, Nm 16: 29; 2 Sm 14: 14; 1 Rs 2:2; Jó 14: 1,2; Ec 9: 5; Is 51:12. Ela caracteriza o fim da vida física, Jó 34: 14,15. O verbo morrer é usado pela primeira vez na Bíblia em Gn 2: 17.
b)O sheol. Este é um termo hebraico para designar o lugar dos mortos. Quem morre vai para o sheol. O significado do termo é complexo. Por isso, em nossas Bíblias é traduzido de diversas formas: além, túmulo, sepultura, morte, inferno e abismo.
Nas línguas originais, a Bíblia usa a palavra hebraica sheóhl e sua equivalente grega hades mais de 70 vezes.
Eclesiastes 9:10 diz: “Não há trabalho, nem planejamento, nem conhecimento, nem sabedoria na Sepultura [“no Seol”, nota], o lugar para onde você vai.” Será que isso significa que o Seol se refere a um túmulo específico, ou individual, no qual talvez tenhamos sepultado uma pessoa amada? Não. Quando a Bíblia se refere a um lugar específico de sepultamento, ou túmulo, ela usa outras palavras hebraicas e gregas, não sheʹóhl e haídes. (Gênesis 23:7-9; Mateus 28:1) Também, a Bíblia não usa a palavra “Seol” para se referir a um túmulo em que várias pessoas são sepultadas juntas, como no caso de um túmulo de família ou uma sepultura coletiva. — Gênesis 49:30, 31.
Sendo o lugar dos mortos, no sheol havia pessoas boas e ruins, ricos e pobres, crianças e adultos, justos e ímpios. O sheol não era um lugar atrativo, contudo não se tornava um lugar desesperador para o justo, pois transmitia a idéia de que a morte não era o fim absoluto da vida humana, Jó 24: 19; SI 9: 17; 16: 10; 31: 17; Ez 32: 23. Deus controlava o sheol, Jó 26: 6; SI 139: 8; Am 9: 2.
c)A ressurreição. A doutrina da ressurreição está presente no Antigo Testamento.
Fundamenta-se na certeza de que Deus controla a vida e a morte. Veja o que diz em 1 Sm 2:6: “6O SENHOR Deus é quem tira a vida e quem a dá. É ele quem manda a pessoa para o mundo dos mortos e a faz voltar de lá.”
Uma declaração muito clara sobre a ressurreição no AT é encontrada nos capítulos 24-27 de Isaías, seção conhecida como apocalipse de Isaías: “os vossos mortos e também o meu cadáver viverão e ressuscitarão; despertai e exultai, os que habitais no pó”, Is 26:19.
Embora alguns intérpretes tenham compreendido esse texto de modo metafórico, como sendo uma referência à restauração de Israel, sem dúvida o texto de Is 26:19 aponta para a futura ressurreição dos justos para vida eterna.
Outro texto importante sobre ressurreição no AT encontra-se em Dn 12: 2: “… Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno. ”. O profeta descreve a ressurreição para o juízo final. Deus receberá o justo na glória, porém condenará os perversos, SI 73: 23-28; SI 16: 10.
II – A CHEGADA DO FILHO DO HOMEM
Este é, também, um tema de grande importância no estudo da escatologia do Antigo Testamento.
a)O significado genérico da expressão. A expressão “filho do homem” ocorre cerca de 108 vezes no Antigo Testamento.
Alguns exemplos: Nm 23: 19; Jó 16: 21; SI 8: 4-5; Is 51: 12; Ez 13: 2; 14: 3; 15: 2; 16: 2; 17: 2; Dn. 8: 17; 10: 16. O profeta Ezequiel é chamado de “filho do homem” 93 vezes. Nestes casos, a expressão refere-se a um ser humano em contraste com o ser divino.
b)O significado de “filho do homem” em Daniel 7. Em Daniel 7: 13, a expressão é utilizada num sentido diferenciado, referindo ao Messias. Nesse texto específico, “filho do homem” é contrastado com quatro seres que representam quatro reinos humanos. O “filho do homem” é o representante do quinto reino.
O texto de Daniel 7: 14 descreve o domínio, glória e reino eterno sendo dados ao “Filho do homem”. Ele é apresentado como rei soberano sobre os reinos humanos, subjugando todos os povos e reafirmando a eternidade de seu domínio, glória e reino, pois jamais será destruído, Dn. 7: 18. Assim, os justos reinarão.
III – O REINO DE DEUS
A expressão “reino de Deus” não aparece no Antigo Testamento. No entanto, o pensamento de que Deus é o Rei soberano está presente nos escritos veterotestamentários.
A visão de Deus reinando de seu trono é repetida muitas vezes no Antigo Testamento: 1 Rs 22: 19; Dn. 7: 9; SI 11: 4; 45: 6.
9”Continuei olhando e vi que foram postos alguns tronos. Num deles, assentou-se aquele que sempre existiu. A sua roupa era branca como a neve, e os seus cabelos eram brancos como a lã. O trono e as suas rodas pareciam labaredas de fogo.” (Dn.7:9)
Somos constantemente lembrados de que o Senhor reina, exercendo seu domínio sobre grandes e pequenos: Êx 15: 18; SI 47; 93; 96: 10; 99: 1-5; 146: 10; Dn 4: 34-37; 6: 26.
O domínio de Deus é total e aqueles que não se submetem ao seu governo sofrem graves consequências, Dn 4: 32. 0 caráter do governo universal é descrito em termos de justiça.
Deus é chamado 41 vezes de rei no Antigo Testamento. A ideia do reino de Deus no AT estava relacionada ao reino de Davi. O trono de Davi é chamado de trono de Deus, ICr 28: 5. O reino será do Senhor, 1 Cr 29: 11; SI 22: 27-29; Mq 4: 6-7; Zc 14: 9.
Mas é importante destacar aqui dois aspectos desse conceito de reino:
a)O Reino de Deus presente. Deus é apresentado como Rei de Israel, Dt 33: 5; SI 84: 3; 145: 1; Is 43: 15. Ele também é Rei sobre todos os povos, SI 29: 10; 47: 2; 96: 10; 97: 1; 103: 19; Is 6: 5; Jr 46: 18. Os oráculos de julgamentos e as execuções de juízo sobre as nações pagãs comprovam que Deus exigia justiça de todos que estavam sob seu governo, e não apenas de Israel.
b)O Reino de Deus escatológico. Além da idéia de um Reino de Deus presente, em que tanto Israel como os povos são julgados, o Antigo Testamento desenvolve também a idéia de um Reino de Deus escatológico. O texto de Daniel 2 descreve um reino que um dia surgiría e jamais seria destruído. Este reino destruirá todos os reinos humanos e permanecerá para todo sempre, w. 44-45.
Até a proxima semana.