O Milagre da Pregação
A pregação bíblica é um milagre duplo.
O primeiro milagre é Deus usar um homem imperfeito, pecador e cheio de defeitos para transmitir a perfeita e infalível Palavra de Deus.
Neste aspecto, a pregação bíblica estabelece a relação de um Ser perfeito usando um ser imperfeito como seu porta-voz. Só um milagre pode tornar isso possível.
O segundo milagre é Deus fazer com que os ouvintes aceitem um porta-voz imperfeito, e assim escutem a mensagem por intermédio do pecador e finalmente sejam transformados por essa mensagem. Esse é o grande milagre da pregação!
As técnicas usadas e aprendidas na pregação são indispensáveis, até porque foram pesquisadas em diversos autores considerados especialistas no assunto e são comprovadas pela experiência de pregadores bem-sucedidos.
Contudo, uma coisa precisa ficar muito clara: todas as técnicas reunidas e colocadas em prática não são suficientes para tornar alguém um bom pregador.
Para ser um bom pregador é preciso ter técnica e algo mais. Esse algo mais é o milagre do Espírito Santo atuando sobre a vida do pregador.
Aos quarenta anos de idade, Moisés conhecia todas as técnicas dos mais variados ramos do conhecimento humano, inclusive a arte de falar em público em diferentes línguas. Anos depois, quando Deus o desafiou a tornar-se pregador, o erudito Moisés respondeu: “Ah! Senhor! Eu nunca fui eloqüente…” (Êx 4.10).
Faltava a Moisés algo mais: um milagre! Foi esse milagre que Deus lhe ofereceu quando disse: “Vai, pois, agora, e eu serei com a tua boca, e te ensinarei o que hás de falar” (4.12). Mesmo com relutância, Moisés aceitou o milagre e tornou-se pregador e líder.
Ao contemplar a santidade de Deus, Isaías sentiu-se um inútil pecador e exclamou: “Ai de mim… porque sou homem de lábios impuros” (Is 6.5). Ele sentiu que seus lábios impuros o desqualificavam para qualquer contato com a Divindade, principalmente para ser-lhe um porta-voz. Faltava a Isaías um milagre.
Então finalmente, um anjo tocou-lhe os lábios com a brasa viva do altar de Deus, e, só após esse milagre, Isaías sentiu-se em condições de ser um porta-voz de Deus e aceitou o desafio: “Eis-me aqui, envia-me a mim” (6.8).
Da mesma forma, o pregador de hoje também é homem de impuros lábios, mas que, tocado pela brasa viva do altar, pode tornar-se um porta-voz de Deus e ser usado no milagre da pregação.
Por incrível que pareça, é essa mistura do humano com o divino que dá poder à pregação.
Segundo Phillips Brooks, a pregação é a “apresentação da verdade através da personalidade”,1 e foi Deus quem escolheu essa combinação da verdade perfeita com a personalidade imperfeita para dar poder à pregação. Em outras palavras, o pregador usa as características de sua personalidade, como conhecimento, habilidade, voz, pensamento, e a sua vida para transmitir a verdade divina, e essa união do divino com o humano tem o poder de alcançar outros seres humanos e transformá-los.
Isto é pregação: um poderoso milagre de Deus, através dos qual o infinito fluindo por via finita, o perfeito chegando até nós por meio do imperfeito, a santidade sendo transmitida através de pecadores, tem o poder de transformar outros pecadores.
Mas o que dizer das palavras do pregador?
No sentido humano, as palavras também produzem mudanças e influenciam comportamentos e atitudes humanas.
Palavras têm o poder de produzir sentimentos, pensamentos e ações.
Em determinadas situações uma única palavra pode produzir amor ou ódio, alegria ou tristeza, motivação ou depressão, pensamentos positivos ou negativos.
Imagine, por exemplo, o efeito das palavras românticas proferidas entre um casal de namorados ou de noivos. Elas são capazes de gerar um campo afetivo cujo desfecho é o casamento. Agora imagine o efeito de palavras sarcásticas, agressivas e desrespeitosas proferidas num momento de desentendimento entre marido e mulher. São capazes de gerar um campo de hostilidade cujo desenlace pode ser o divórcio. Tal é o poder de influência das palavras.
As palavras, portanto, são polivalentes, podendo ajudar ou atrapalhar. Podem encorajar, inspirar e tranqüilizar, mas também podem decepcionar, desunir e oprimir.
Além de tudo isso, foram as palavras que preservaram a verdade bíblica até os nossos dias, bem como preservaram a história da humanidade e as descobertas da ciência. Mas da mesma forma elas contribuíram para desencadear guerras, homicídios e torturas.2 Hitler, por exemplo, manipulou uma nação e torturou o mundo com o uso tendencioso das palavras. Jesus Cristo, por outro lado, estabeleceu o cristianismo e o evangelho com o uso do mesmo recurso: palavras.
As palavras podem fazer ou deixar de fazer milagres na vida das pessoas. E aspecto aí está o poder que será utilizado como ferramenta do pregador. Cada pregador tem a oportunidade e a responsabilidade de escolher e combinar as palavras de tal maneira que produzam o melhor efeito na vida espiritual das pessoas.
A própria Bíblia diz: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2Tm 2.15). Talvez, parafraseando este texto, pudéssemos dizer que o pregador só será aprovado por Deus se manejar bem a Verdade e manejar bem as palavras. Ser pregador, portanto, é ter o poder do Espírito para usar o milagre das palavras no milagre da pregação.
Que Deus abençoe a sua vida.