AULA DE HERMENEUTICA MINISTRADA PELO PR JOSIAS MOURA NO SEMINARIO DO BETEL BRASILEIRO
Porque tantas interpretações? A Bíblia é difícil de ser entendida ou nossa compreensão é limitada?
Vale a pena a seguinte observação:
“É verdade que, ao nível mais fundamental os Cristãos gozam de um acesso direto a Deus e que seu Espírito se comunica diretamente com o nosso espírito por meio das Escrituras. Por outro lado, não devemos permitir que esta verdade preciosa se degenera num senso de perfeita compreensão particular das escritutas. Para começar, nossos limites e pecaminosidade interferem no processo de compreensão perfeita. E, mais uma vez, estamos separados por uma grande distância de tempo e cultura dos escritos que compõem a Bíblia.”
Dizer que a Bíblia precisa ser interpretada não implica que ela seja falha ou imperfeita. Nem tampouco significa que ela perde sua autoridade ou infalibilidade. Precisamos reconhecer que o que é falha não é a Bíblia, mas a nossa compreensão. O que carece de perfeição não é a Palavra de Deus, mas as nossas mentes. O que precisa ser preparada e transformada não é a mensagem divina, mas os nossos meios de raciocinar e pensar.
Alguns pensam que o Espírito Santo naturalmente nos protege de enganos e equívocos em relação à interpretação da Palavra. Pensam várias pessoas que, como Cristo prometeu que o Espírito ia guiar seus primeiros discípulos à toda verdade (João 16:13), que Ele continua a guiar hoje os seguidores de Jesus quando lêem as Escrituras de modo que não sejam enganados. Vale a pena uma outra observação:
“Queremos saber o que a Bíblia significa para nós – e isso é certo. Não podemos, no entanto, fazê-la significar qualquer coisa que nos agrada, e depois dar ao Espírito Santo o "crédito" por ela. O Espírito Santo não pode ser conclamado para contradizer a Si mesmo, e Ele é Aquele que inspirou a intenção original.”
O Espírito Santo nos ajuda e nos guia no entendimento da Palavra de Deus (1 Cor 2:10-16; 1 João 20:27). Mas o Espírito tem que fazer isso numa luta constante com as nossas mentes humanas que são falhas. O mesmo Espírito tem como propósito ajudar o homem a resistir sua tendência pecaminosa (Rom 8:13; Gal 5:17). Mas, o Espírito tem que fazer isso contra a fraqueza natural da nossa vontade humana. Apesar de ter a ajuda do Espírito que é perfeito, nosso entendimento das Escrituras não é perfeito. Portanto, apesar de sermos guiados pelo Espírito Santo, nossas interpretações da Bíblia estão sempre sujeitas ao erro.
É possível que parte do problema esteja com a nossa definição do processo de interpretação. Talvez seria mais correto dizer que a interpretação da Bíblia é: “aquele processo pelo qual a mente, o raciocínio, a lógica e todos os meios de comunicação do homem são treinados e preparados para receber, compreender e daí comunicar a Palavra de Deus.”
Pensar que todos podem chegar à Bíblia pela primeira vez, abri-la e compreender com perfeita lucidez tudo que ela está dizendo é um pensamento sedutor, mas enganoso. Isto é um pensamento bastante comum, mas, isto é um pensamento cheio de presunção por nossa parte. A Bíblia é um vaso perfeito para a comunicação da vontade de Deus. Mas a minha mente é um vaso imperfeito para receber aquela comunicação perfeita. A idéia de que qualquer pessoa pode abrir a Bíblia e logo entender, sem ajuda, tudo que ela ensina não é uma idéia ensinada nem apoiada pela Palavra de Deus.
De fato a própria Bíblia ensina o contrário. Ela ensina claramente que sempre houve e sempre haverá uma necessidade para pessoas especialmente dotadas por Deus e treinadas e equipadas por Ele para interpretar e ensinar a Bíblia.
· Jesus, no contexto de interpretar uma das sua próprias parábolas exortou seus discípulos a serem como o bom “escriba” – “Por isso, todo escriba versado no reino dos céus é semelhante a um pai de família que tira do seu depósito coisas novas e coisas velhas.” – Mateus 13:52 Jesus disse: “…eis que vos envio profetas, sábios e escribas…” – Mateus 23:34
A palavra usada por Jesus nos dois versículos citados acima é a mesma usada para os famosos intérpretes da lei Judaica do primeiro século, os “escribas” (gr. grammateus). Na época de Jesus o grammateus era um intérprete oficial. Com poucas exceções, “grammateus no NT sempre tem seu significado judaico de ‘erudito na Tora’, ‘rabino’, ‘teólogo ordenado’.
Freqüentemente estes escribas foram associados aos fariseus (Mat. 5:20; 12:38; 15:1). Nos dias de Jesus não tinham boa fama. Mesmo assim, Jesus afirmou que o ministério da interpretação da Palavra continuaria a existir. Em referencias como Mateus 13:52 e 23:34 Jesus não está incentivando seus seguidores a seguirem a hipocrisia dos líderes religiosos da sua época. Mas, segundo Jesus, haveria escribas do Reino, homens dotados com a missão de interpretar as Escrituras, e Jesus mesmo prometeu enviar escribas para seus seguidores.
Vemos que Jesus viu a prática da interpretação como legítima e necessária. Outras passagens nos mostram que os primeiros seguidores de Jesus tinham a consciência de que haveria a necessidade de membros da Igreja especialmente treinados para interpretar a Bíblia.
· “Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres…” – Atos 13:1 Jesus preparou especialmente para a edificação da sua igreja homens com o dom de “mestre” (1 Cor 12:28-9; Efé 4:11) Paulo era “pregador, apóstolo e mestre” (1 Tim 2:7; 2 Tim 1:11). Evidentemente a função de cada um destes dons era diferente, como também parece nas listas de 1 Cor 12:28-9 e Efé 4:11.
Se era necessário apenas anunciar o evangelho e não interpretá-la para o povo, Deus poderia ter mandado apenas pregadores ou apóstolos. Mas, ele mandou também evangelistas e mestres, homens com o dom e a responsabilidade de interpretar a Palavra e aplicá-la corretamente (veja 2 Tim 2:24 e 4:2-4). O pastor também tem que ser um homem preparado e equipado para ensinar (1 Tim 3:2; Tito 1:9). Vemos aqui por meio das providencias de Deus que Ele mesmo previu a necessidade de alguns irmãos especialmente preparados para interpretar e ensinar as Sagradas Escrituras.
Vendo tantos exemplos bíblicos fica evidente que Deus não deu a entender que a Bíblia é uma coisa simples e fácil de entender. A mensagem do Evangelho é simples. O amor de Deus por nós não é complicado. Vários aspectos da Palavra de Deus são fáceis de compreender. Mas, vários outros aspectos são bastante sutis e difíceis para nós compreender, precisando passar pelo processo de interpretação. É justamente por causa desta necessidade que Deus preparou certos homens com o dom de estudar e ensinar sua palavra.
Portanto, é enganosa a impressão que alguns tem de que, quando abrem e lêem a Bíblia, as conclusões a que cheguem, as deduções e idéias que vêem às suas mentes, são a pura verdade de Deus, sem qualquer influência particular. Todos nós somos o resultado, a soma, de várias influencias familiares, culturais, sociais e espirituais. Todas estas influencias e idéias em certos momentos podem servir para esclarecer algo na Palavra de Deus, e em outros momentos podem obscurecer aquela Verdade Divina.
É por isso que precisamos ser treinados e preparados para receber aquela Mensagem. Precisamos ser treinados para poder distinguir entre aquilo que partiu do texto original e aquilo que partiu de uma influência da nossa cultura, ou criação particular ou simplesmente da nossa imaginação. Também precisamos ser treinados e preparados para comunicar aquela mesma Mensagem de forma compreensível e clara ao povo de Deus. Tudo isso faz parte do processo que chamamos de “interpretação”. Lembramos que não é a Bíblia que é imperfeita, e sim, a nossa compreensão dela. Portanto, precisamos nos esforçar para podermos entende-la da melhor forma possível.
QUESTÕES:
1. Se um texto tem um único sentido, porque existem várias interpretações?
2. Como é a atuação do Espírito Santo no processo da interpretação de textos?
3. Porque não podemos aceitar que a Bíblia tem falhas?
4. Destaque 03 aplicações importantes deste Texto que foi lido para a sua vida?