COMENTÁRIO BÍBLICO DE ESDRAS
INTRODUÇÃO
Título. O Livro de Esdras, como o de Rute, Jó, Ester e outros, recebeu o nome de seu personagem principal. Os judeus o consideravam uma unidade junto com o livro de Neemias (cons. Talmude, texto massorético, Josefo), mas a repetição de Esdras 2 em Neemias 7 indica que os dois livros foram originalmente obras distintas. Na LXX, Esdras e Neemias foram chamados de Esdras B, para distingui-los de um livro apócrifo, Esdras A (que continha II Crônicas 35:1, todo o livro de Esdras, mais Neemias 8:1-12, com variantes e adições).
Data e Autoria. Embora o autor não fosse mencionado, e a narrativa seja feita na primeira e terceira pessoas, é altamente provável que o próprio Esdras escrevesse o livro, usando diversos decretos, cartas e genealogias como fontes originais. Alguns documentos babilônicos usaram semelhante forma de narrativa; portanto a mudança de tratamento não é um argumento conclusivo contra sua autoria. Nem se pode usar o fato dele se referir a si mesmo como um "escriba versado na lei de Moisés" (7:6) para se argumentar eficientemente o contrário (cons.
Nm. 12:3).
Considerando que Esdras viveu até o período de Neemias (Ne. 8:19; 12:36), ele teve tempo suficiente para terminar o seu livro entre abril de 456 A.C., quando os acontecimentos de Esdras 10:17-44 se realizaram, e o verão de 444 A.C., quando Neemias chegou a Jerusalém vindo da corte persa. Robert Dick Wilson ("Esdras-Neemias", ISBE, II, 1083) destacou que o hebraico de Esdras parece-se com o de Daniel, Ageu e Crônicas mais do que o de Eclesiástico (escrito cerca de 180 A.C.), e que as porções de Esdras em aramaico (4:7 – 6:18; 7:12-26) são muito parecidas com o aramaico dos papiros elefantinos do século quinto A.C.
Antecedentes Históricos. O Livro de Esdras registra o cumprimento da promessa divina feita à nação de Israel, através de Jeremias, de trazê-la de volta à sua terra depois de setenta anos de cativeiro. Por meio da proteção e ajuda de três reis persas (Ciro, Dano e Artaxerxes) e a liderança de grandes e piedosos judeus, tais como Zorobabel, Jesua, Ageu, Zacarias e Esdras, o segundo Templo foi terminado e a verdadeira adoração restaurada em Jerusalém.
Os seis primeiros capítulos do livro englobam os acontecimentos dos dois ou três primeiros anos do reinado de Ciro (538-530 A.C.) e os seis primeiros anos do reinado de Dario I (521-486 A.C.). Os quatro últimos capítulos (Ed. 4:7-23) registram os acontecimentos que se sucederam durante a primeira parte do reinado de Artaxerxes I (464423A.C.). Não se faz menção de Cambises (530522 A.C.) ou de Esmerdis (522 A.C.) e só um versículo (4:6) menciona Xerxes (486-465 A.C.). Assim, embora oitenta importantes anos da história persa aquemênida fosse abarcada pelo Livro de Esdras, praticamente nada se diz do período de cinqüenta e oito anos compreendido entre 515 A.C. e 457 A.C., durante o qual os persas fizeram dois grandes mas fúteis esforços de conquistar a Grécia, quando tiveram lugar os acontecimentos contidos no livro de Ester.
Quando o cenário se abre em Esdras 1, os judeus tinham acabado de presenciar a derrota do odiado Império Neo-Babilônico, em 539A.C., por Ciro, o Persa. E Daniel acabara de ser colocado em lugar de honra por Dario, o medo, a quem Ciro designara por soberano dos territórios neobabilônicos (Dn. 5:30 – 6:3).
ESBOÇO
I. Os exilados retornam da Babilônia. 1:1 – 2:70.
A. O decreto de Ciro. 1:1-4.
B. Preparativos para a viagem. 1:5-11.
C. Aqueles que retornaram. 2:1-70.
II. Começa a construção do Templo. 3:1 – 4:24. A. O altar e o alicerce. 3:1-13.
B. Oposição à obra. 4:1-24.
III. O edifício terminado. 5:1 – 6:22. A. O trabalho retomado. 5:1-5.
B. A carta de Tatenai a Dario. 5:6-17.
C. Decretos de Ciro e Dano. 6:1-12.
D. O Templo é terminado. 6:13-22.
IV. A Viagem de Esdras a Jerusalém. 7:1 – 8:36. A. Apresentação de Esdras. 7:1-10.
B. Carta de Artaxerxes a Esdras. 7:11-28.
C. A viagem a Jerusalém. 8:1-36.
V. A grande reforma. 9:1 – 10:44.
A. A trágica notícia e a oração de Esdras. 9:1-15.
B. Casamentos mistos são desfeitos. 10:1-17.
C. Lista daqueles que tinham esposas estrangeiras. 10:18-44.
COMENTÁRIO
I. Os Exilados Retornam da Babilônia. 1:1 – 2:70.
Esdras 1
A. O Decreto de Ciro. 1:1-4. Deus cumpriu Suas promessas feitas a Israel por intermédio de Jeremias, de que o Cativeiro duraria apenas setenta anos. No fim desse período, Ele levantou Ciro, o persa, para denotar os babilônios que tinham escravizado os israelitas. Um dos primeiros atos públicos de Ciro, na qualidade de novo rei da Babilônia, foi encorajar os judeus a retomarem a Palestina para reconstrução da casa de Jeová que estava arruinada.
1. No primeiro ano de Ciro. Estas palavras, e as que se seguem, até o meio do versículo 3, são idênticas às que concluem II Crônicas. Os dois livros estão portanto ligados por um elo comum. É bem possível que Esdras tenha escrito I e II Crônicas. Ciro, que, por volta de 550 A.C., caldeara os medos e os pensas em uma monarquia dual, finalmente, em outubro de 539 A.C., conquistou a Babilônia. A palavra do Senhor, por boca de Jeremias. Foi em 605 A.C. que Jeremias profetizou o cativeiro de Judá por setenta anos (Jr. 25:12; cons. 25:1). E foi esta profecia que levou Daniel a orar pelo livramento do seu povo no ano da queda da Babilônia (Dn. 9:2).
2. O Senhor. . . me encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém. Cerca de duzentos anos antes, Isaías profetizara que Ciro seria o instrumento divino para libertar os judeus do exílio e iniciar a restauração do Templo (Is. 44:28 – 45:7; 45:13). Não é preciso que se pretenda que o libertador fosse um crente verdadeiro (cons. Is. 45:4 – "Eu te chamei pelo nome .. . ainda que não me conheces".) O famoso rolo cuneiforme de Ciro registra esta oração do rei persa: "Que todos os deuses que eu recoloquei em suas sagradas cidades peçam diariamente a Bel e Nebo que me concedam uma vida longa . . . ", Ciro provavelmente reconhecia o Deus de Israel como uma das divindades mais importantes, especialmente se Daniel lhe mostrou as profecias de Isaías (Jos. Antiq., 11. 1. 1). Este decreto foi arquivado em Ecbatana, onde Dario I o descobriu vinte anos depois (Ed. 6:2).
B. Preparativos para a Viagem. 1:5-11. Milhares de judeus piedosos atenderam à convocação de Ciro e prepararam-se para a longa viagem. E muitos dos utensílios que Nabucodonosor tirou do Templo foram entregues aos judeus para serem levados de volta à Jerusalém.
6. Todos os que habitavam nos arredores os ajudaram. Só retornaram cerca de 50.000 judeus (cons. 2:64, 65). A maioria resolveu permanecer na Babilônia, onde muitos já estavam estabelecidos (Jr. 29:4-7). Assim, estavam em condições de ajudarem àqueles que pretendiam retornar. Gentios, também, provavelmente deram presentes (cons. Êx. 12:35, 36).
7. Os utensílios da casa do Senhor. Alguns utensílios foram levados à Babilônia em 605 A.C. (Dn. 1: 2), alguns em 597 A.C. (II Reis 24:13), e o restante cm 586 A.C. (II Reis 25:14, 15; Jr. 27:16-22). Aqueles que Ciro não enviou de volta nesta ocasião foram devolvidos ao Templo por Dario I em cerca de 518 A.C. (Ed. 6:5), contudo, o mobiliário do Templo, inclusive a arca da aliança, foram destruídos em 586A.C. (Jr. 3:16; lI Reis 25:13).
8. Sesbazar, príncipe de Judá. Assim como Daniel era oficialmente conhecido em Babilônia por Beltessazar (Dn. 1:7), Zorobabel era provavelmente conhecido por Sesbazar. Sabemos que Zorobabel lançou os alicerces do Templo (Ed. 3:8; 5:2; Zc. 4:9); mas em uma carta oficial a Dario, "Sesbazar" é quem o faz (5:16). Zorobabel era neto do Rei Jeoaquim (Jeconias; I Cr. 3:17-19) e um antepassado de José (Mt. 1:12). O fato de I Cr. 3:19 chamá-lo de filho de Pedaías em vez de Sealtiel (Ed. 3:2) dá a impressão de que Sealtiel morreu sem filhos e que Pedaías contraiu casamento em levirato com a viúva de seu irmão.
11. Cinco mil e quatrocentos. Os 2.499 utensílios relacionados em 1:9, 10 talvez fossem os maiores ou os mais importantes.
Esdras 2
C. Aqueles que Retornaram. 2:1-70.
A lista está dividida em oito grupos: Zorobabel e seus companheiros (vs. 1, 2); famílias judias (vs. 3-19); cidades palestinas (vs. 20.35); sacerdotes (vs. 36.39); levitas (vs. 40-42); netinins (vs. 4354); servos de Salomão (vv. 55-58); aqueles com genealogia incerta (vs. 59-63). A seção termina com uma lista de totais (vs. 64-67) e uma breve declaração de sua chegada e os presentes que deram ao templo (vv. 6870).
2. Os quais deram com Zorobabel, Jesua, Neemias . . . De acordo com Ne. 7:7, são doze os que faziam parte deste grupo de líderes. Jesua, ou Josué, era o sumo sacerdote (3:2), neto do sumo sacerdote Serias, que foi morto por Nabucodonosor em Ribla ((II Reis 25:18-21; cons. I Cr. 6:14). O Neemias mencionado aqui não é, certamente, o mesmo famoso governador de oitenta anos após.
3-19. Muitos destes nomes aparecem novamente em Esdras 8 e 10 e Neemias 10. Assim, temos aqui não os nomes de indivíduos que viveram nesse período, mas de famílias que eram antigas e bem estabelecidas. Alguns membros dessas famílias retomaram com Zorobabel em
536A.C., e o restante veio mús tarde com Esdras.
20-35. Muitas dessas cidades aparecem em outras passagens do V.T.
36-39. Jedaías é provavelmente o nome de um chefe de família dentro da família do sumo sacerdote Jesua, que descendia de Eleazar, o terceiro filho de Arão. Imer é o nome da terceira ordem de sacerdotes (I Cr. 24:14). Pasur é possivelmente da família de Malquias, a quinta ordem de sacerdotes (I Cr. 24:9; cons. I Cr. 9:12 ; Ne. 11:12). Harim é o nome da terceira ordem de sacerdotes (I Cr. 24:8).
40-42. Três classes de levitas foram mencionadas: 1) levitas regulares, que ajudavam os sacerdotes; 2) cantores; e 3) porteiros, ou guardas das portas. Só 341 levitas retornaram com os 4.289 sacerdotes. Esdras encontrou semelhante relutância da parte dos levitas no seu tempo, em retornar (Ed. 8:15). Isto não é fácil de se explicar.
43-54. Os servidores do templo (netinins) eram provavelmente descendentes dos gibeonitas, os quais Josué sujeitou ao trabalho (Js. 9).
55-58. Os filhos dos servos de Salomão eram sem dúvida os descendentes dos seus prisioneiros de guerra. Eram iguais aos netinins e foram contados com eles (v. 58).
59-62. Três famílias de gente comum (vv. 59-60) e três famílias de sacerdotes (vv. 61, 62) não puderem provar seu relacionamento com a nação por meio dos registros genealógicos, e por isso ficaram oficialmente excluídos, embora tivessem permissão de acompanham os verdadeiros judeus nesta viagem.
63. O governador. Tirsata era um título persa, possivelmente significando "sua excelência". Refere-se ao governador Zorobabel. Em Ne. 8:9 o mesmo título foi aplicado a Neemias. Até que se levantasse um sacerdote com Urim e Tumim. Em Êx. 28:30, o Urim e o Tumim são citados como parte da vestimenta cerimonial do sumo sacerdote. Eram usados de alguma certa maneira para determinar a vontade de Deus. Mas parece que a vontade de Deus já não podia mais ser determinada desse modo depois da partida da glória do Shequiná em 592 A.C. (Ez. 8-11). A ansiosa esperança de Zorobabel (e de todos os judeus piedosos) para que esta trágica situação não continuasse, naturalmente não se cumpriu e o problema das seis famílias ficou sem solução.
64-67. Este total de 42.360 é idêntico ao de Ne. 7:66; mas a cifra real de Esdras 2 chega somente a 29.818, e a de Ne. 7 totaliza somente 31.088. Nos números do V.T., algumas vezes ocorrem mudanças e omissões por causa de repetidas cópias; talvez essa seja a explicação desta discrepância. Cantores e cantoras (v. 65). Pessoas não israelitas contratadas para cantarem em festividades e lamentações, além dos cantores levitas.
68-70. Vindo à casa do Senhor. Uma expressão interessante sugerindo que ela continuou sendo em Jerusalém mesmo depois de sua destruição em 586A.C. Cons. Jr. 41:5; Ageu 2:9. Em ouro sessenta e uma mil dracmas. Veja observação em passagem paralela, Ne. 7:70-72.
Todo o Israel. Cons. Ed. 2:2b. Está fora de dúvida que todas as doze tribos foram representadas nesta expedição, pois refugiados das tribos do norte afluíram abundantemente em Judá durante séculos antes do cativeiro da Babilônia.
II. Começa a Construção do Templo. 3:1 – 4:24.
Esdras 3
A. O Altar e os Alicerces. 3:1-13. Logo depois de chegar à Terra Prometida, os judeus providenciaram para que os holocaustos pudessem ser oferecidos. Na primavera seguinte colocaram os alicerces do segundo Templo, com grande cerimônia e emoções mistas.
1. Em chegando o sétimo mês. Foi no primeiro dia do mês (v. 6), na Festa das Trombetas (Nm. 29:1-6), uma sombra da final reunião de Israel. Considerando que tenha havido uma delonga de dois anos na partida da Babilônia depois do decreto de Ciro, isto teria acontecido em 25 de Setembro de 536 A.C. O lançamento dos alicerces do templo, na primavera seguinte, oficializada assim o término do septuagésimo ano de cativeiro predito por Jeremias, cativeiro esse que se estendeu de 605 a 535 A.C. (Jr. 25:1-12).
3. Estavam sob o terror dos povos de outras terras. Portanto, estavam inteiramente cônscios da necessidade que tinham da proteção de Deus. Compare como paganismo de II Reis 17:24-34. Que seus temores não eram exagerados pode ser visto nos capítulos seguintes de Esdras.
4. Celebraram a festa dos tabernáculos. Esta festa se estendia do décimo quinto dia ao vigésimo segundo do sétimo mês, exatamente duas semanas depois da Festa das Trombetas. Cons. Nm. 29:13 e segs. O Dia da Expiação, no décimo dia do sétimo mês, não está mencionado neste capítulo.
7. Para trazerem do Líbano madeira de cedro ao mar, para Jope. Compare com a maneira pela qual Salomão ajuntou material, mais de 500 anos antes (II Cr. 2:16 e contexto). Segundo a permissão que lhes tinha dado Ciro. Os termos explícitos dessa permissão se encontram em 6:3-5.
8. No segundo ano . . . no segundo mês. Maio-junho de 535 A.C. Veja observações sobre Ed. 3:1. Levitas da idade de vinte anos para cima. Enquanto vinte e cinco era a idade mínima para o serviço dos levitas no tabernáculo (Nm. 8:24; 4:3), para o serviço no templo era de apenas vinte (I Cr. 23:24; II Cr. 31:17). Havia 24.000 levitas designados para superintender a obra do Templo de Salomão (I Cr. 23: 4), enquanto que agora só havia MI ao todo! (Ed. 2:40-42).
9. Jesua. . . Cadmiel . . . Judá . . . Henadade. Para Judá substitua Hodavias. Assim, os três primeiros nomes aqui são os mesmos de 2:40, e representara famílias levíticas especiais colocadas para supervisão dos trabalhadores do templo.
10. Os sacerdotes, paramentados e com trombetas, e os levitas … com címbalos. Esta foi a mesma ordem observada quando a arca foi levada para Jerusalém no tempo de Davi (I Cr. 16:5,6; cons. Nm. 10:8).
11. Cantavam alternadamente, antifonariamente. O próprio salmo cantado nesta ocasião (cons. Sl. 136:1) dá a idéia de estarem pensando nos termos da grande profecia de Jeremias (Jr. 33:11). E todo o povo jubilou com altas vozes. Sua alegria era contagiante, pois as orações e esperanças de décadas de cativeiro estavam agora sendo cumpridas diante dos seus olhos.
12,13. Porém muitos . . . choraram em alta voz .. . muitos no entanto, levantaram as vozes com gritos de alegria. Cinqüenta anos tinham se passado desde que o primeiro Templo fora destruído, e muitos dentre os homens mas velhos que o tinham visto choravam agora por causa do triste contraste em tamanho e grandeza de planos. E que contraste era para com o glorioso Templo Milenial profetizado por Ezequiel, os judeus desse período sabiam-no muito bem! Quando o trabalho do segundo templo foi recomeçado em 520 A.C., alguns desses velhos homens choraram novamente (Ageu 2:3).
Esdras 4
B. Oposição à Obra. 4:1-24. Tão logo os alicerces foram lançados começaram os problemas para os judeus. Primeiro veio a tentação de comprometer seu testemunho. Quando conseguiram resistir a isto com efeito, começou uma oposição ativa e continuou intermitente desde os dias de Ciro até os dias de Artaxerxes.
1. Os adversários de Judá e Benjamim. Estas duas tribos foram mencionadas de maneira particular porque agora constituíam a maioria da nação, e era principalmente em seus antigos territórios que o remanescente vivia agora.
2. Desde os dias de Esar-Hadom. Isaías profetizara que ai dez tribos do norte deixariam de ser um povo à parte dentro de sessenta e cinco anos. Considerando que ele o profetizou em 734 A.C. (Is. 7:8), a profecia se cumpriu em 669 A.C., dentro do reinado de Esar-Hadom, rei da Assíria (680-668 A.C.), que foi o responsável pela introdução de estrangeiros em Samaria (II Reis 17:24). Esses estrangeiros casaram-se com israelitas, e foram seus descendentes que agora se aproximaram de Zorobabel, dizendo: “Como vós, buscaremos a vosso Deus”. Foi uma proposta perigosíssima, pois veio disfarçada em religião verdadeira (II Cr. 11:15; cons. II Co. 6:17).
3. Nós mesmos, sozinhos, a edificaremos. Isto é, o povo de Jeová em oposição às "gentes da terra" (v. 4). Zorobabel viu claramente a impossibilidade de aceitar pagãos em base de igualdade com os verdadeiros judeus na construção do Templo de Jeová. Esses samaritanos revelaram seu verdadeiro caráter quando, depois de rejeições posteriores, edificaram seu próprio templo no Monte Gerizim (Jo. 4:20-22).
4. Desanimaram o povo de Judá. O profeta Jeremias foi acusado de fazer isso no seu tempo (Jr. 38:4).
5. Alugaram contra eles conselheiros. Teria isto acontecido na corte de Susã? Se isto aconteceu em 535 A.C., então provavelmente Daniel já não vivia mais e não havia nenhum judeu influente intercedendo pela nação na corte persa. Todos os dias de Cito, rei da Pérsia, até ao reinado de Dario, rei da Pérsia. Isto se refere aos anos que restavam a Ciro (535-530 A.C.), ao reinado de Cambises (530-522 A.C.), ao breve reinado de Esmerdis (522 A.C.) até o segundo ano de Dario I (521-520 A.C.). Depois da parentética história da oposição (vs.
6-23), a história propriamente dita é retomada (v. 24).
6. Agora começa um parêntesis na história principal, que fala de semelhante oposição aos judeus nos dias de Xerxes (486-465 A.C.) e Artaxerxes (464-423 A.C.). Uma vez que Assuero (em hebraico, ‘ahashwerosh) foi mencionado no versículo 6, depois de Dario no versículo 5, e tem o mesmo nome do rei do Livro de Ester, deve ter parecido óbvio aos comentaristas mais antigos que este era Xerxes. Uma acusação. A mesma raiz no hebraico para Satanás, "o acusador" (I Cr. 21:1; Jó 1: 6). Esta acusação escrita enviada a Xerxes em 486 A.C. não foi mencionada em nenhum outro lugar do V.T.
7. Bislão, Mitredate, Tabeel eram provavelmente samaritanos que pagaram a dois altos oficiais persas – Reum, o comandante, e Sinsai, o escrivão (v. 8) – para escrever a carta de 4:11-16 a Artaxerxes, acusando os judeus da reconstrução dos muros de Jerusalém. Tabeel (Deus é bom) talvez seja o mesmo Tobias (Jeová é bom) de Ne. 2:19. Na língua siríaca. Em aramaico, a língua comercial do Crescente Fértil durante o primeiro milênio A.C. Não somente esta carta de 4:11-16 foi escrita em aramaico, mas todo o trecho de Esdras desde 4:8 até 6:18. Este aramaico é muito parecido como dos papiros elefantinos.
9. Afarsaquitas. Cons. 5:6. Keil cria que eram membros de um povo especialmente devotado ao rei da Pérsia, que tinha posição de destaque entre os colonos da Síria. Alguns dos outros povos são difíceis de se identificar, embora a maior parte deles tenha provavelmente vindo de regiões da Babilônia, Pérsia e Média (cons. II Reis 17:24).
10. O grande e afamado Asnapar. O grande rei assírio Assurbanipal (688-626 A.C.), que completou o transplante dos povos que Esar-Hadom (v. 2) começara, um ou dois anos antes, a fazer em somaria.
12. E em tal tempo. Literalmente, e assim por diante. Esta abreviação da costumeira e extensa saudação aparece novamente em 4:11, 17; 7:12.
12,13. Os inimigos dos judeus aqui professam grande preocupação pelo bem-estar do rei da Pérsia. Seu relatório sobre o progresso dos muros (v. 12) está obviamente exagerado, à luz do versículo 13. Não obstante, parece claro que alguns esforços foram despendidos para a reconstrução dos muros de Jerusalém, possivelmente por causa do estímulo de Esdras (veja observação sobre o v. 23). A construção do Templo não foi considerada nesta carta, pois já fora completada em 515 A.C. (6:15). Aquela rebelde e malvada cidade. Cons. 4:15. Jerusalém certamente se comprovara ser assim sob os trágicos reinados de Jeoaquim (II Reis 24:1) e Zedequias (II Cr. 36:13). E até onde os assírios estavam envolvidos, também foi assim nos dias de Ezequias e Manassés (II Cr. 32 : 33).
14. Somos assalariados do rei. Literalmente, comemos o sal do palácio.
15. No fim dos crônicas de seus pais. Veja Ester 6:1, onde Xerxes, o pai de Dano, consulta "o livro dos feitos memoráveis". Devia incluir crônicas da história assíria, babilônica e também persa.
20. Também houve reis poderosos sobre Jerusalém. Ainda que Davi e Salomão fossem os maiores reis de Jerusalém, monarcas tais como Asa, Josafá, Uzias e Ezequias certamente deixaram sua marca na história antiga do Oriente Próximo.
21. A não ser com autorização minha. Esta cláusula final deixou a porta aberta para o rei mudar de idéia, conforme constatamos em Neemias 2. Certamente isto foi providencial, pois as leis dos medos e persas não podiam ser mudadas.
23. De mão armada os forçaram a parar com a obra. É claro que os samaritanos se aproveitaram deste decreto, e foram até os extremos de destruir parcialmente os muros que tinham sido construídos e queima os portões. Foi a notícia dessa tragédia que abalou Neemias e forçou-o a chorar e orar (Ne. 1:3, 4). Podemos portanto datar este decreto de 446 A.C. A relação de Esdras com toda essa crise não ficou indicada nas Escrituras, embora ele fosse certamente a favor da construção dos muros da cidade (Ne. 12:36).
24. Cessou, pois, a obra da casa de Deus. Isto se segue ao parêntesis de 4:6-23, voltando ao versículo 5, com a informação adicional de que foi no segundo ano de Dario que a obra da casa de Deus (não os muros da cidade) foi recomeçada (5:2). Comentaristas mais antigos, pensando que 4:24 devia seguir 4:23 cronologicamente, foram forçados a interpretar Assuero em 4:6 como Cambises e Artaxerxes em 4:7 como Esmerdis.
III. O Edifício Terminado. 5:1 – 6:22.
Esdras 5
A. O Trabalho Retomado. 5:1-5.
Após quinze anos de estagnação, a obra do templo foi recomeçada sob o ímpeto da poderosa pregação de Ageu e Zacarias. Nem mesmo as ameaças de Tatenai puderam impedir o trabalho.
1. Os profetas Ageu e Zacarias. O nome do pai de Ageu foi omitido aqui, como também no seu livro. O avô de Zacarias era Ido, sendo Baraquias seu pai (Zc. 1:1). O ministério de Ageu começou em 29 de agosto de 520 A.C. (Ag. 1:1), mas Zacarias não começou o seu ministério antes de outubro-novembro.
2. Começaram a edificar a casa de Deus. A obra do templo foi retomada apenas três semanas após a pregação de Ageu! Isto foi em 20 de Setembro de 520 A.C. (Ag. 1: 14, 15). Zorobabel foi muito elogiado no livro de Ageu e em Zacarias 4, enquanto Jesus foi honrosamente mencionado em Zacarias 3 e 6.
3. Tatenai, governador daquém do Eufrates. Era o sátrapa persa para toda a região a oeste do Eufrates. Desde 539 a 525 A.C., não somente esta região, mas a Babilônia também, foi governada por Dario, o meda. Setar-Bozenai era provavelmente o assistente ou secretário de Tatenai, como Sinsai foi mais tarde de Reum (4:9). Restaurardes este muro. Aqui se refere ao muro do templo (com. 5:8). Os versículos 9, 10 contém toda a pergunta de Tatenai, a qual explica a resposta de 5:4. Mas toda a resposta dos judeus à ameaça de Tatenai se encontra nos versículos 11-16.
5. Porém os olhos de Deus estavam sobre os anciãos. Uma evidência clara da providência de Deus. (Veja em 7:6 uma frase semelhante e mais freqüente.) Uma vez que provavelmente se passou um ano até que recebessem a resposta de Dario, interromper o seu trabalho nesse intervalo de tempo seria um severo golpe para os judeus.
B. A Carta de Tatenai a Dario. 5:6-17.
Tatenai, o sátrapa persa, escreveu então a Dario, o rei, falando de seu desafio e da resposta dos judeus e perguntando qual o veredito com base no decreto de Cito.
8. A casa do grande Deus. Esta carta se refere exclusivamente ao templo, em contraste com a carta de 4:12-16, que foi escrita cerca de setenta anos mais tarde (veja observações).
11-13. Agora a carta cita a resposta dos judeus a Tatenai, na qual eles falam da história do seu templo desde o seu término em 960 A.C. até sua destruição em 586 A.C., e o decreto de Ciro para sua reconstrução em 538 A.C.
16. Veio o dito Sesbazar, e lançou os fundamentos da casa. Cons. 1:8; 5:14. Outro nome para Zorobabel, pois foi ele que lançou os fundamentos em 3:8-10. E daí para cá se está edificando. A terminologia hebraica aqui não impossibilita uma interrupção na obra (E.J. Young, An Introduction to the Old Testament, pág. 373). O ponto é que não houve uma ordem de "cessar obras" oficial vinda da corte persa (contraste com 4:23) desde os dias de Cito até o presente.
17. Mesmo se o decreto de Ciro fosse encontrado e fosse favorável, Tatenai provavelmente esperava que Dario, o fundador de um novo ramo da dinastia acata, o revogasse (veja observações sobre 6 1, 2).
Esdras 6
C. Decretos de Ciro e Dario. 6:1-12.
Além de Dano encontrar o decreto de Ciro relativo aos judeus e seu templo, também criou um próprio, ordenando a Tatenai que ajudasse os judeus em sua Obra e ameaçando aqueles que alterassem seu decreto.
1, 2. Nos arquivos reais em Babilônia . . . em Acmetá. Keil destaca que a vasta complexidade do Império Persa e a confusão geral que acompanhou a mudança do poder real da linhagem de Cito para a linhagem de Dario em 521 A.C., ajudam a explicar por que alguns decretos anteriores teriam sido esquecidos. Mas é um tributo à eficiência da administração persa que os registros estivessem seguramente arquivados em uma elaborada rede de arquivos centralizada em Babilônia e estendendo-se por filiais distantes como a de Acmetá (Ecbatana), capital do antigo império meda. Os arquivos (v. 1) são arquivos mesmo, mas o rolo (v. 2) quer dizer um rolo de papiro ou couro (outra palavra hebraica) e não a costumeira tabuinha de barro. Possivelmente todos os antigos rolos estavam arquivados na biblioteca de Ecbatana por causa doar que não era tão quente e úmido como o da Babilônia.
3. Para uma explicação da diferença entre este decreto de Cito e o de Esdras 1, veja E.J. Young (op. cit., pág. 372). Enquanto um consistia de proclamação pública, o outro era um complemento oficial mais detalhado para os arquivos. A sua altura de sessenta côvados. O pórtico do Templo de Salomão tinha duas vezes essa altura (II Cr. 3:4).
8. Também por mim se decreta. Além de Dario advertir Tatenai que deixasse os judeus em paz por causa do decreto de Cito, também acrescentou um decreto próprio que deve ter assombrado Tatenai e seus companheiros. Da tesouraria real . . . dos tributos dalém rio, se pague pontualmente a despesa a estes homens. Cons. 6:4. Isto provavelmente prejudicou o bolso de Tatenai, pois ele tinha a sua parte nos tributos.
10. Para que ofereçam sacrifícios . . . ao Deus dos céus, e orem pela vida do rei e de seus filhos. Dario podia pronunciar estas palavras facilmente sem abandonar o seu politeísmo. Orar pelos reis está implícito na ordem de Jeremias aos judeus exilados (Jr. 29:7). Carl F. Keil (The Books of Ezra, Nehemiah, and Esther, pág. 87) mostra que isto foi feito nos séculos posteriores também (1 Macabeus 7:33; 12:11; Js. Antiq. 12.
2. 5).
11. Uma viga se arrancará … e que seja ele levantado e pendurado nela. Keil cita Heródoto (III. 159) que conta que Dano empatou 3.000 babilônios depois de tomar a cidade. Portanto esta não era uma ameaça infundada! E que da sua casa se faça um monturo. Cons. Dn. 2:5; 3:29; II Reis 9:37.
D. O Templo é Terminado. 6:13-22. Com a ajuda de governadores seculares e profetas piedosos, os judeus terminaram o seu templo dentro de cinco anos e o dedicaram a Jeová com grande alegria. Um mês mais tarde, multidões se ajuntaram em Jerusalém para celebração da Páscoa e da Festa dos Pães Asmos.
14. Segundo o decreto de Ciro, de Dario, e de Artaxerxes, rei da Pérsia. Esdras tomou o cuidado de acrescentar o nome de seu próprio rei, Artaxerxes, porque este ajudou na manutenção do Templo (7:15, 16, 21).
15. No dia terceiro do mês de adar. Foi em 12 de março de 515 A.C., quatro anos e meio depois de começada a obra com perseverança. Enquanto o Templo estava sendo construído sucederam-se os acontecimentos de Zacarias 7.
17. Salomão ofereceu duzentas vezes mais novilhos e carneiros por ocasião da dedicação do seu Templo! lI Reis 8:63).
19. A páscoa. Isto aconteceu em 21 de abril de 515 A.C., exatamente cinco semanas depois da dedicação do Templo. Começando com este versículo, o texto volta novamente ao hebraico.
20. Os sacerdotes e levitas se tinham purificado como se fossem um só homem. Como um, sem exceções. Os levitas substituíram os chefes de famílias (Êx. 12:6) e mataram os cordeiros pascais para os leigos (que poderiam estar imundos) e os sacerdotes i que estavam ocupados demais). Cons. II Cr. 35:11, 14, 15.
21. Dois grupos de judeus foram mencionados aqui, aqueles que retornaram da Babilônia e aqueles que ficaram na terra, misturando-se com os pagãos (II Reis 17:33).
22. O rei da Assíria. Uma vez que os pensas agora governavam os antigos territórios da Assíria, pode se dizer que Dario era o rei da Assíria, tal como Ciro fora rei da Babilônia.
IV. A Viagem de Esdras a Jerusalém. 7:1 – 8:36.
Esdras 7
A. Apresentação de Esdras. 7:1-10. Agora se apresentam as ligações familiares e características pessoais de Esdras, como também um pequeno sumário de sua grande viagem.
1. Passadas estas coisas. Entre os capítulos 6 e 7, há um intervalo de cinqüenta e oito anos, durante os quais tiveram lugar os acontecimentos do livro de Ester. Isto poderia explicar a atitude favorável de Artaxerxes para com Esdras. Esdras, filho de Seraías. Seraías era sumo sacerdote em 586 A.C. (II Reis 25:18). Mas Esdras devia descender de um filho mais jovem de Seraías, porque ele não foi chamado de "filho de Jozadaque ", como Jesua (Ed. 3:2; I Cr. 6:14); e portanto seus ancestrais imediatos não se encontravam na linhagem sumo-sacerdotal.
3. Azarias, filho de Meraiote. Para encurtar a lista, seis nomes foram excluídos entre esses dois (I Cr. 6: 7-11).
6. Ele era escriba versado na lei de Moisés. Escriba. O soper hebraico significava anteriormente "secretário". Mas no tempo de Jeremias os escribas também eram professores da Bíblia (Jr. 8:8), e esse é o significado aqui.
7-9. A viagem de 1.448kms levou quatro meses – 27 de março a 24 de julho de 457 A.C.
10. Porque Esdras tinha disposto o coração. Veja em II Cr.
12:14; 19:3; 30:19, expressões semelhantes.
B. Carta de Artaxerxes para Esdras.
7:11-28. Artaxerxes escreveu uma carta em aramaico para Esdras, dando-lhe permissão para levar voluntários judeus, ouro e prata e os utensílios do templo de volta a Jerusalém. Além disso, fez ampla provisão de mantimentos e ministros para o templo, e deu autoridade a Esdras para nomear magistrados e juízes.
14. Seus sete conselheiros. A suprema corte de Artaxerxes (cons. Et. 1:14; Heródoto, III, 84). Para fazeres inquirição a respeito de Judá e Jerusalém. Ao que parece, Esdras tinha uma posição na corte persa que correspondia à de Secretário de Estado para os negócios judeus.
18. O que a ti . ., bem parecer. Poderia Esdras interpretar isto como permissão inclusa para reconstrução dos muros da cidade? E a teus irmãos. Os sacerdotes.
20-22. Artaxerxes seguiu os exemplos de Ciro e Dario (cons. 6:4, 8). O total que foi dado chegou a cem talentos de prata (cerca de US$ 100.000), cem coros de trigo (22.000 litros), cem batos de vinho e de azeite (2.631 litros).
25. Que julguem a todo o povo que está dalém do Eufrates. Isto é, os judeus ("a todos os que sabem as leis de teu Deus"). E ao que não as sabe, que lhas façam saber. Judeus que não tivessem conhecimento das Escrituras deviam ser instruídos nelas. Sem dúvida Esdras sugeriu a Artaxerxes o que o decreto deveria conter. A última provisão, particularmente, coincidia com o alvo da vida do escriba (v. 10).
27, 28. Esdras reconhecia, neste notável decreto, que Jeová inclinara o coração do rei para o Seu povo (Pv. 21:1). O embelezamento do Templo foi a causa principal para a ação de graças, pois o restabelecimento do culto a Deus foi a chave do reavivamento.
Esdras 8
C. A Viagem a Jerusalém. 8:1-36.
Cerca de 1.500 sacerdotes e chefes de famílias partiram da Babilônia com Esdras. Além desses, Esdras convidou alguns levitas e netinins de Casifia. Confiou os tesouros do templo a vinte e quatro sacerdotes e levitas. Após um período de oração e jejum, o grupo encetou a longa viagem a Jerusalém. Quatro meses depois chegaram à cidade e depositaram seus tesouros no templo. Ofereceram sacrifícios sobre o altar e entregaram as ordens de Artaxerxes às devidas autoridades.
2. Gérson . . . Daniel. Esses chefes das famílias sacerdotais eram descendentes do terceiro e quarto filho de Arão respectivamente (veja v. 24, observação). É estranho que nenhum total dos sacerdotes seja apresentado, nem da família de Hatus, um descendente do Rei Davi.
3-14. Esta lista de genealogias também se encontra entre as dezessete genealogias de Ed. 2:3-15, com exceção de Joabe (v. 9). Dos filhos de Zatu e Bani provavelmente deveria aparecer em 8: 5, 10 (LXX e I Esdras), concordando com os mesmos nomes em 2: 8, 10. O fato dos mesmos nomes aparecerem com oitenta anos de intervalo indica que são nomes de famílias, não de indivíduos que viveram no tempo de Zorobabel e Esdras. Alguns membros dessas famílias retornaram com Zorobabel, mas outros membros não retornaram até os dias de Esdras.
15. Onde ficamos acampados três dias. Considerando que finalmente partiram do rio Aava (localização desconhecida, provavelmente um canal) no duodécimo dia (v. 31), deviam ter viajado nove dias a partir da Babilônia até aquele ponto (cons. 7:9). Nenhum dos filhos de Levi. Só 341 levitas retornaram com Zorobabel, em comparação com os 4.289 sacerdotes (2:36-42).
17. Ido, chefe em Casifia. Isto devia ser uma colônia de levitas e netinins. Ido era provavelmente um levita.
18-20. Um homem entendido. Provavelmente um nome próprio, Ichechel, um descendente de Mali, neto de Levi (Êx. 6:16,19). Serebias e Hasabias foram novamente mencionados em Ed. 8:24 (observação).
21-23. Então apregoei ali um jejum. Veja outros exemplos do V.T. de jejum para obter resposta às orações, em Jz. 20:26; I Sm. 7:6; lI Cr. 20:3; Joel 1:14. Desta vez, nenhuma coluna de nuvem apareceu para conduzir os peregrinos de volta à Terra Santa; mas a mão do Senhor os conduzia (Ed. 8:22). Porque tive vergonha de pedir . . . exército e cavaleiros. Esdras deu assim um bom testemunho. Mas o fato de Neemias ter uma escolta (Ne. 2:9) apenas prova que nossas vidas e circunstâncias diante de Deus nunca são idênticas. E ele nos atendeu. Assim Esdras olha para trás e contempla uma viagem segura e bem sucedida.
24. Serebias, Hasabias, e dez dos seus irmãos. Estes eram levitas obviamente (vs. 18, 19), perfazendo doze sacerdotes e doze levitas. Nenhum desses doze sacerdotes foram mencionados aqui, mas dois foram citados no versículo 2.
25-27. Veja o decreto de Artaxerxes em 7:14-16. O ouro, a prata e os utensílios preciosos valiam cerca de US$ 3.000.000. Não foi por menos que Esdras proclamou um jejum para buscarem a proteção de Deus na viagem!
31, 32. Partiram de Aava em 8 de abril de 457 A.C., e chegaram a Jerusalém em 24 de julho (7:9). 1.448 kms em quatro meses perfazem cerca de 11, 26kms por dia. Foi uma boa média, considerando que havia crianças (v. 21), além de muito equipamento a ser transportado. E a boa mão do nosso Deus estava sobre nós. Cons. o testemunho de Esdras em 8:22. Repousamos ali três dias. Cons. Ne. 2:11.
35, 36. Que alegria tiveram aqueles judeus ao poderem oferecer sacrifícios sobre o verdadeiro altar de Deus! Entre eles havia sacerdotes e levitas que jamais tinham visto Jerusalém ou o seu templo. Aos seus sátrapas e aos governadores. Eram os sátrapas e governadores dos distritos que rodeavam Judá. Judá nessa ocasião e por muitas décadas depois foi considerada como parte de um setor governamental mais extenso.
V. A Grande Reforma. 9:1 – 10:44.
Esdras 9
A. A Trágica Notícia e a Oração de Esdras. 9:1-15. Quando Esdras foi consultado pelos governadores judeus em relação aos casamentos mistos contraídos nos últimos anos, ele foi tomado de tristeza, e sua profunda angústia trouxe a convicção do pecado a muitos corações.
Sua grandiosa oração não continha pedidos de perdão, mas forneceu a devida atmosfera para a confissão e abandono do pecado da parte da congregação. Ele contrastou a lealdade divina com a desobediência de Israel, pela qual a nação merecera extinção.
1. Acabadas, pois, estas coisas. Provavelmente passaram diversos meses depois dos acontecimentos de 8:36, pois estamos agora no mês de dezembro (10:9). Vieram ter comigo os príncipes. Todas as classes sociais da nação estavam envolvidas neste recente pecado; mas uma vez que foram os príncipes que deram o exemplo (9:2), foram eles e não os sacerdotes que primeiro vieram ter com Esdras. Cinco das sete nações cananitas foram aqui relacionadas (Dt. 7:1; Atos 13:19), além de três outras. Esses povos pagãos da terra escaparam à deportação de Nabucodonosor.
2. Assim se misturou a linhagem santa. Cons. Êxo. 19:5; Is. 6:13.
3. Arranquei os cabelos da cabeça. Rasgar a roupa era sinal de profunda aflição (Lev. 10:6; Is. 7:6); mas arrancar uma porção dos cabelos e barba era expressão de ira violenta e indignação moral (Is. 50:6; Ne. 13:25). Esdras percebeu claramente que por causa da santidade de Deus, pecado tão grave só poderia resultar em outro período de cativeiro.
4. Os que tremiam das palavras do Deus de Israel. Cons. 10:3; Is. 66:2, 5; Sl. 119:120, 161. A atitude de um homem para com a Palavra de Deus é um dos critérios definitivos para se medir a sua espiritualidade.
8. Agora por breve momento. Literalmente. Oitenta anos na Terra Santa pareciam um curto espaço de tempo quando comparados com os séculos de sofrimentos sob os assírios e babilônios (cons. Ne. 9:32).
Estabilidade no seu santo lugar. Cons. Is. 22: 23. O templo era como um ponto de referência que mantinha a comunidade unida. Para nos alumia os olhos, ó Deus nosso. Cons. Sl. 13: 3; I Sm. 14:27, 29.
9. Porque somos servos. Nenhum judeu bem instruído pensava que o Milênio já tivesse despontado quando o remanescente de Zorobabel retornou à Palestina (cons. Is. 14:1-3). Para que nos desse um muro de segurança em Judá e em Jerusalém. Muro aqui é figurativo. A palavra no hebraico gader significa muro ou cerca de vinha, construída para sua proteção (Is. 5:2,5). Uma vez que os reis da Pérsia os protegiam, eles eram num certo sentido um "muro" entre Judá e seus inimigos.
Esdras 10
B. Casamentos Mistos São Desfeitos. 10:1-17.
A oração de confissão de Esdras produziu o desejado efeito, e muitos se lhe juntaram para confessarem seus pecados. Foi feita uma proclamação que todos os judeus deviam apresentar-se em Jerusalém dentro de três dias. Contudo, a complexidade do problema e o tempo inclemente obrigou a um adiamento do processo judicial. Finalmente, os judeus culpados foram levados ao tribunal e forçados a abandonarem suas esposas estrangeiras.
1. Prostrado diante da casa de Deus. Embora prostrado no pátio do Templo, ele continuava de joelhos (9: 5). O povo chorava com grande choro. Os judeus foram sensibilizados até as lágrimas por causa dos pecados da nação, vistos agora sob uma luz inteiramente nova. Esdras conseguiu muito mais através de amorosa e sincera preocupação do que jamais teria conseguido por meio da força.
6. Na câmara de Joanã, filho de Eliasibe. Josefo (Antiq. 11. 5. 5) declara que Joiaquim (Ne. 12:10) era sumo sacerdote quando Esdras chegou a Jerusalém. Seu filho, o Eliasibe deste versículo, foi sumo sacerdote no tempo de Neemias (Ne. 13:4,7). Uma vez que Ne. 12:10 declara que Joanã (Jonatã) era neto de Eliasibe, podemos dizer que o Joanã do nosso versículo era um irmão mais moço de Joiada, filho de Eliasibe. Em homenagem do seu irmão, Joiada chamou seu próprio filho de Joanã também. É inteiramente razoável supormos que o neto do sumo sacerdote Joiaquim tivesse um aposento no templo nos dias de Esdras.
8. Todos os seus bens seriam totalmente destruídos. Literalmente, consagrados. Isto provavelmente não se refere à destruição, como no caso de cidades idólatras (Dt. 13:12-17), mas à apropriação em beneficio do templo (Lv. 27:28).
9. Em 8 de dezembro de 457 A.C., uma imensa multidão de judeus, não cabendo dentro da pequena cidade (cons. Ne. 7:4), ajuntou-se no espaço aberto que havia defronte da Porta das Águas no extremo sudeste do pátio do templo (Ne. 3:26; 8:13, 16; 12:37) para ouvir a solene mensagem de Esdras (Ed. 10:10, 11). Tremendo por causa desta coisa e por causa das grandes chuvas. Dois fatores criaram muito desconforto entre o povo : um temor esmagador da ira de Deus sobre a nação; e a chuva torrencial que caracteriza o mês de dezembro em Jerusalém.
15. No entanto Jônatas . . . e Jaseías . . . se opuseram a esta coisa. A oposição destes dois homens e seus dois partidários poderia ter surgido devido à solidariedade para com os lares que estavam sendo ameaçados com a divisão. Neste caso, eles não encaravam a questão pelo prisma divino, e sua oposição felizmente fracassou.
17. E o concluíram no primeiro dia do primeiro mês. Parker e Dubberstein (Babylonian Chorology 626 A.C. – 75 A.D.) demonstraram que houve um mês intercalado nesse ano, de modo que o exame na realidade durou quatro meses e não três, e terminou em 15 de abril de 456 A.C. Isto aconteceu cerca de um ano depois que Esdras partiu do rio Aava.
C. Lista Daqueles que Tinham Esposas Estrangeiras. 10:18-44.
Dezessete sacerdotes, dez levitas e oitenta e seis homens da congregação de Israel foram declarados culpados e cada um separou-se de sua esposa estrangeira, oferecendo depois um carneiro pela sua culpa.
18. Todas as quatro ordens sacerdotais estão aqui representadas, comprovando a declaração dos príncipes (9:1; cons. 2:36-39).
19. Com um aperto de mão . . . ofereceram um carneiro do rebanho pela sua culpa. Fizeram um trato solene, empenhando a mão direita como ratificação (Pv. 6:1; Ez. 17:18), com a promessa de que abandonariam suas esposas estrangeiras. Veja Lv. 5:14-16 quanto à ordem de oferecer um cordeiro pela culpa.
44. Alguns dos quais tinham filhos destas mulheres. Isto foi mencionado para mostrar como essa separação foi cabal, sendo muito mais dolorosa do que se não houvessem filhos. "Sem dúvida fez-se provisão adequada pelas mulheres e crianças repudiadas, de acordo com os meios e circunstâncias dos maridos" (Robert Jamieson, Commentary on Ezra em JFB). Uma comparação com Ne. 10:30 (doze anos mais tarde) e Ne. 13:23 (cerca de trinta anos depois) mostra que o mal não foi permanentemente eliminado. Longa associação com vizinhos pagãos tornou essa separação definida uma coisa difícil de entender para judeus menos instruídos. Mas Esdras era o homem de Deus para aquela hora, pelo menos para aquela geração, a fim de que o testemunho da nação fosse preservado para o final cumprimento dos propósitos divinos.