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ToggleJoão 14:28 – “Ouvistes que eu vos disse: Vou e venho para vós. Se me amásseis, teríeis regozijado, porque eu vou para o Pai; pois o Pai é maior do que eu.”
Introdução:
A relação entre o Pai e o Filho é um tema que desperta fascínio e, por vezes, suscita questionamentos na mente dos cristãos. Afinal, se Jesus é plenamente Deus, como podemos entender sua enigmática afirmação de que o Pai é maior do que Ele? Essa aparente contradição tem intrigado teólogos e estudiosos da Bíblia ao longo dos séculos, levando-os a explorar as profundezas da natureza divina e da encarnação de Cristo.
Ao nos depararmos com essa declaração de Jesus registrada em João 14:28, somos convidados a mergulhar no mistério da Trindade e a contemplar a beleza da relação entre o Pai e o Filho. Longe de ser uma negação da divindade de Cristo ou uma indicação de inferioridade, essa passagem nos revela a harmonia perfeita, o amor infinito e a submissão voluntária que caracterizam a dinâmica entre as Pessoas divinas.
Neste texto, embarcaremos em uma jornada teológica para desvendar o significado das palavras de Jesus e compreender como elas se encaixam no quadro mais amplo da fé cristã. Exploraremos a divindade de Cristo, suas duas naturezas e a doutrina da submissão do Filho ao Pai, buscando insights que nos permitam apreciar a riqueza e a profundidade da Trindade.
Prepare-se para ter sua mente e seu coração desafiados e enriquecidos à medida que nos aprofundarmos nesse tema fascinante. Que a nossa reflexão sobre a relação entre o Pai e o Filho nos leve a uma maior reverência, adoração e gratidão pelo amor incomparável que Deus demonstrou por nós através da encarnação e da obra redentora de Cristo.
Parte 1: A Divindade de Cristo
A divindade de Jesus Cristo é um pilar fundamental da fé cristã. As Escrituras apresentam evidências contundentes de que Jesus é plenamente Deus, coexistindo eternamente com o Pai e o Espírito Santo na Trindade. No prólogo do Evangelho de João, encontramos uma das declarações mais claras sobre a natureza divina de Cristo: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (João 1:1). Essa passagem afirma inequivocamente a divindade de Jesus, o Verbo eterno que sempre existiu e que é Deus em essência.
Ao longo dos Evangelhos, Jesus demonstra atributos exclusivos de Deus, como o poder de perdoar pecados (Marcos 2:5-7), a autoridade sobre a natureza (Mateus 8:26-27) e a capacidade de conceder vida eterna (João 10:28). Ele também aceita adoração, algo que seria blasfêmia se não fosse Deus (Mateus 28:9; João 20:28). Além disso, Jesus afirma sua unidade com o Pai, declarando: “Eu e o Pai somos um” (João 10:30).
As epístolas do Novo Testamento reforçam a divindade de Cristo. Paulo, em sua carta aos Colossenses, afirma que em Jesus “habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Colossenses 2:9). O autor de Hebreus declara que Jesus é o “resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser” (Hebreus 1:3). Essas passagens, entre outras, confirmam que Jesus não é apenas um ser humano excepcional, mas o próprio Deus encarnado.
Reconhecer a divindade de Cristo é essencial para compreendermos corretamente sua pessoa e sua obra. Se Jesus não fosse plenamente Deus, seu sacrifício na cruz não teria o poder de nos reconciliar com o Pai e nos conceder a vida eterna. Somente um Salvador divino poderia assumir o peso dos pecados da humanidade e oferecer uma redenção completa e definitiva.
Portanto, ao abordarmos a afirmação de Jesus de que o Pai é maior do que Ele, devemos ter como ponto de partida inabalável a verdade de que Jesus é plenamente Deus. Qualquer interpretação que negue ou diminua a divindade de Cristo estará em desacordo com o testemunho das Escrituras e com a fé histórica da Igreja. É a partir desse fundamento sólido que podemos explorar a relação entre o Pai e o Filho e entender a submissão voluntária de Jesus em sua encarnação.
Parte 2: As Duas Naturezas de Cristo
Para compreendermos adequadamente a afirmação de Jesus de que o Pai é maior do que Ele, precisamos considerar as duas naturezas de Cristo: a divina e a humana. Essa doutrina, conhecida como a União Hipostática, é um conceito fundamental da teologia cristã que afirma que Jesus é plenamente Deus e plenamente homem, possuindo duas naturezas distintas em uma única pessoa.
A natureza divina de Cristo é eterna, imutável e infinita. Como Deus, Jesus possui todos os atributos divinos, como onisciência, onipotência e onipresença. Ele é coigual e coeterno com o Pai e o Espírito Santo, existindo desde sempre como a Segunda Pessoa da Trindade. Essa natureza divina não foi diminuída ou alterada quando Jesus assumiu a natureza humana.
Por outro lado, a natureza humana de Cristo é temporal, finita e sujeita às limitações da humanidade. Ao encarnar-se, Jesus assumiu plenamente a natureza humana, tornando-se semelhante a nós em tudo, exceto no pecado (Hebreus 4:15). Ele experimentou fome, sede, cansaço, dor e até mesmo a morte. Essa natureza humana permitiu que Jesus se identificasse conosco, vivendo como um de nós e enfrentando as mesmas lutas e tentações que enfrentamos.
É importante ressaltar que essas duas naturezas estão unidas em uma única pessoa, Jesus Cristo, sem confusão, sem mudança, sem divisão e sem separação. Elas não se misturam nem se fundem, mas coexistem de maneira perfeita e harmoniosa. Assim, quando Jesus fala ou age, Ele o faz como uma pessoa única, mas suas palavras e ações podem refletir ora sua natureza divina, ora sua natureza humana.
Essa compreensão das duas naturezas de Cristo é crucial para interpretarmos corretamente suas palavras em João 14:28. Quando Jesus afirma que o Pai é maior do que Ele, não está negando sua divindade ou sugerindo uma inferioridade essencial. Pelo contrário, Ele está falando a partir de sua natureza humana, na condição de servo obediente que assumiu voluntariamente.
Na encarnação, Jesus, sem deixar de ser Deus, assumiu a forma de servo e se submeteu à vontade do Pai. Filipenses 2:6-7 nos diz que Cristo, “embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens”. Essa submissão voluntária do Filho ao Pai não implica uma inferioridade ontológica, mas demonstra a perfeita harmonia e o amor que existe na Trindade.
Portanto, ao considerarmos as duas naturezas de Cristo, podemos entender que sua afirmação sobre a supremacia do Pai se refere à sua posição de submissão voluntária na economia da salvação. Isso não contradiz sua divindade, mas revela a beleza da relação entre o Pai e o Filho e o plano redentor de Deus para a humanidade.
Parte 3: A Submissão do Filho
A submissão do Filho ao Pai é um tema central na compreensão da relação entre as Pessoas da Trindade e do papel de Jesus na obra da redenção. Quando Jesus afirma que o Pai é maior do que Ele (João 14:28), está se referindo à sua posição de submissão voluntária assumida na encarnação. Essa submissão não implica inferioridade ou desigualdade, mas revela a perfeita harmonia, o amor e a unidade que existem entre o Pai e o Filho.
Desde a eternidade, o Filho sempre existiu em uma relação de amor e submissão ao Pai. Isso não significa que o Filho seja inferior ao Pai em essência ou atributos divinos, mas que Ele assume voluntariamente um papel subordinado na economia da salvação. O teólogo João Calvino explica: “Cristo, portanto, é Deus, e é com o Pai a única fonte de todas as coisas. Mas, ao mesmo tempo, em sua pessoa como Mediador, é inferior ao Pai. Pois, quando se fez carne, desceu do céu não para fazer sua própria vontade, mas a vontade daquele que o enviou”.
Ao encarnar-se, Jesus assumiu plenamente a natureza humana e se submeteu à vontade do Pai em todas as coisas. Ele declarou: “Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (João 6:38). Essa submissão do Filho ao Pai é evidenciada em diversos momentos da vida de Jesus, como em sua oração no Getsêmani: “Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lucas 22:42).
A submissão de Jesus ao Pai não foi uma imposição externa, mas uma escolha voluntária motivada por amor e obediência. Filipenses 2:8 nos diz que Cristo “humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz”. Essa obediência do Filho ao Pai foi essencial para o cumprimento do plano da redenção. Somente através da submissão perfeita de Jesus, o “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29), é que a salvação se tornou possível para a humanidade.
Além de seu aspecto redentor, a submissão do Filho ao Pai também nos oferece um exemplo sublime de humildade e serviço. Jesus, sendo Deus, não se apegou a seus privilégios divinos, mas esvaziou-se a si mesmo, assumindo a forma de servo (Filipenses 2:6-7). Ele nos ensinou que a verdadeira grandeza está em servir e que o caminho para a exaltação passa pela humilhação voluntária. Como seguidores de Cristo, somos chamados a imitar seu exemplo de submissão e obediência a Deus.
É importante ressaltar que a submissão do Filho ao Pai não é uma subordinação eterna ou ontológica, mas uma subordinação funcional e voluntária assumida na encarnação. Após sua ressurreição e ascensão, Jesus foi exaltado e recebeu novamente a glória que tinha com o Pai antes da fundação do mundo (João 17:5). Agora, Ele está assentado à destra do Pai, reinando como Senhor e Cristo (Atos 2:36).
Portanto, a submissão do Filho ao Pai revela a beleza da relação trinitária e o amor que permeia a Trindade. Ela nos mostra que a obediência e a humildade são virtudes divinas, exemplificadas perfeitamente por Cristo. Ao contemplarmos a submissão voluntária do Filho, somos inspirados a viver em obediência a Deus, seguindo os passos de nosso Salvador e Senhor.
Conclusão:
Ao explorarmos a afirmação de Jesus de que o Pai é maior do que Ele, descobrimos uma verdade profunda e transformadora sobre a relação entre o Pai e o Filho. Longe de contradizer a divindade de Cristo ou sugerir uma inferioridade ontológica, essa declaração revela a beleza da submissão voluntária do Filho ao Pai no contexto da encarnação e da obra redentora.
Compreender as duas naturezas de Cristo – divina e humana – é fundamental para interpretarmos corretamente suas palavras. Como Deus, Jesus é coigual e coeterno com o Pai, possuindo todos os atributos divinos. No entanto, ao assumir a natureza humana, Ele se submeteu voluntariamente à vontade do Pai, tornando-se obediente até a morte de cruz.
Essa submissão do Filho ao Pai não é uma subordinação eterna ou essencial, mas uma expressão de amor, harmonia e unidade dentro da Trindade. Ela nos revela o caráter servo de Cristo e nos convida a imitá-lo em humildade e obediência. Ao contemplarmos a relação entre o Pai e o Filho, somos inspirados a viver em submissão a Deus, buscando fazer sua vontade acima de tudo.
Que a compreensão da supremacia do Pai e da submissão do Filho nos leve a uma adoração mais profunda e sincera. Que nos maravilhemos com o amor infinito que permeia a Trindade e que se manifestou de forma tão poderosa na encarnação e na cruz. E que, como filhos amados de Deus, vivamos em obediência e gratidão, seguindo o exemplo de Cristo e buscando glorificar o Pai em todas as coisas.
Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos nós, agora e para sempre. Amém!