Aula 04 – Sermão expositivo

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O Sermão Expositivo

Definição de sermão expositivo

O sermão expositivo é o modo mais eficaz de pregação, porque, mais que todos os outros tipos de mensagens, ele, com o tempo, produz uma congregação cujo ensino é fundamentado na Bíblia. Ao expor uma passagem da sagrada Escritura, o ministro cumpre a função primária da pregação, a saber, interpretar a verdade bíblica (o que nem sempre se pode dizer dos outros tipos de sermões).

Sermão expositivo é aquele em que uma porção mais ou menos extensa da Escritura é interpretada em relação a um tema ou assunto. A maior parte do material deste tipo de sermão provém diretamente da passagem, e o esboço consiste em uma série de idéias progressivas que giram em torno de uma idéia principal.

Examinando esta definição, notamos em primeiro lugar que o sermão expositivo baseia-se em uma “porção mais ou menos extensa da Escritura”. A passagem pode consistir em uns poucos versículos ou pode incluir um capítulo inteiro ou até mesmo mais de um capítulo. Para o nosso objetivo, porém, usaremos na discussão toda do sermão expositivo um mínimo de quatro versículos, mas não estabeleceremos limites para o número máximo de versículos.

A definição também afirma que uma porção mais ou menos extensa da Escritura é interpretada “em relação a um tema ou assunto”. O Dr. James M. Gray dá ao grupo de versículos que formam a base do sermão expositivo o título de “unidade expositiva”. Mais especificamente, a unidade expositiva consiste em um número de versículos dos quais emerge uma idéia central. O sermão expositivo, portanto, como o sermão temático e o textual, gira em tomo de um tema. Mas, na mensagem expositiva, esse tema é extraído de vários versículos em vez de um único ou até mesmo de dois.

A definição também afirma que “a maior parte do material do sermão provém diretamente da passagem”. A mensagem expositiva apresenta não apenas as idéias principais da passagem; os detalhes também devem ser corretamente explicados e devem fornecer o material principal do sermão. Segue-se, portanto, que quando derivamos todas as subdivisões, bem como as divisões principais, do mesmo trecho bíblico, e quando todas estas divisões são corretamente expostas ou interpretadas, o esboço baseia-se, pois, diretamente na passagem escolhida.

Devemos ter em mente, no decorrer do sermão expositivo, o tema da passagem; e, à medida que desenvolvemos essa idéia principal, deve seguir-se no esboço uma série de idéias progressi­vas relacionadas com o tema. Isto, sem dúvida, ficará mais claro para o leitor ao observar ele os exemplos dados neste capítulo.

Uma parte importante de nossa definição não deve ser despre­zada. Note novamente a primeira parte da definição: “sermão expositivo é aquele em que uma porção mais ou menos extensa da Escritura é interpretada”. Examine com cuidado estas últimas palavras. Na exposição, cabe-nos esclarecer ou elucidar o signifi­cado do texto bíblico. E este o próprio gênio da pregação expositiva: tornar o significado das Escrituras claro e simples. Para tanto, precisamos estudar os detalhes até dominá-los (veja o capítulo 9). Lembremo-nos sempre, porém, de que a elucidação de uma passagem bíblica deve ter como objetivo relacionar o passado com o presente, ou mostrar que a verdade é aplicável aos dias de hoje.

Diferença entre o sermão textual
e o expositivo

E bom, a esta altura, que se compreenda claramente a diferença entre o sermão textual e o expositivo.

Já vimos que o sermão textual é aquele em que as divisões principais derivam de um texto constituído de uma breve porção bíblica, em geral um único versículo ou dois, ou às vezes até mesmo parte de um versículo. No caso do sermão expositivo, o texto pode ser uma porção mais ou menos extensa da Bíblia —às vezes um capítulo inteiro ou até mais — e as divisões provêm da passagem. Repito: na mensagem textual, as divisões oriundas do texto são usadas como uma linha de sugestão; isto é, indicam a tendência do pensamento a ser seguido no sermão, permitindo  que o pregador tire as subdivisões ou idéias para o desenvolvi­mento do esboço de qualquer parte da Escritura, consoante ao desenvolvimento lógico dos pensamentos contidos na$ divisões principais. O sermão expositivo, por outro lado, obriga o prega­dor a extrair todas as subdivisões, bem como as divisões principais, da mesma unidade bíblica que pretende expor. Desta maneira, o sermão todo consiste na exposição de certo trecho bíblico, e a passagem converte-se no próprio tecido do discurso. Em outras palavras, o corpo de pensamento provém diretamente do texto, e o sermão passa a ser, definitivamente, interpretativo.

Como afirmamos anteriormente, alguns textos, embora com­preendam um único versículo ou dois, contêm tantos detalhes que podemos derivar da mesma passagem não apenas as divisões principais mas também as subdivisões. Quando assim se faz, o sermão textual é tratado expositivamente, e o discurso todo torna-se uma exposição do texto.

Exemplos de esboços de sermão expositivo

Como primeiro exemplo de um esboço de sermão expositivo usaremos Efésios 6:10-18. Para que o estudante siga o procedi­mento usado na elaboração do esboço, instamos a que primeiro leia a passagem várias vezes e a estude com cuidado antes de examinar o esboço dado adiante. Sugerimos também fazer o mesmo antes de cada um dos outros esboços deste capítulo e em todo o restante deste livro.

Um exame, por breve que seja, de Efésios 6:10-18, nos levará a concluir que Paulo aqui trata da batalha espiritual do crente e procura apresentar as várias feições relacionadas a esse conflito, de modo que o filho de Deus possa tomar-se um guerreiro bem-su­cedido.

Se examinarmos a passagem com bastante atenção, veremos que nos versículos 10 a 13 o apóstolo anima o crente a ser corajoso e firme em face de inimigos espirituais avassaladores. Em outras palavras, Paulo refere-se, nestes versículos, à moral cristã. Os versículos 14 a 17 lidam com as diferentes partes da armadura que o Senhor providenciou para o santo em face de inimigos sobre-humanos. Concluímos, portanto, que esta seção pode ser descrita como a armadura do crente. Antes, porém, de terminar sua discussão dos aspectos envolvidos nesta guerra espiritual, o apóstolo acrescenta o versículo 18. Aqui ele diz ao crente vestido com a armadura de Deus que também deve entregar-se à oração incessante no Espírito e à intercessão constante por todos os santos. É óbvio, pois, que o aspecto final apresentado por Paulo, em conexão com o conflito espiritual, é a vida de oração do crente. Agora estamos prontos para elaborar um esboço dos três aspectos principais discutidos pelo apóstolo em conexão com a guerra espiritual:

I.   A moral do crente, w. 10-13.

II.  A armadura do crente, w. 14-17.

III.  A vida de oração do crente, v. 18.

Examinando mais atentamente os versículos 10 a 13, vemos que o grande apóstolo acentua, pelos menos dois aspectos da moral cristã. Para começar, ele insta a que o crente, no conflito espiritual, coloque sua confiança no Senhor e, tendo feito isso, permaneça firme (veja os versículos 11, 13 e 14a), não importa quão grandes e poderosos pareçam seus inimigos. No desenvolvi­mento do esboço expositivo podemos assim descobrir duas sub­divisões sob a divisão principal da “Moral do crente”. Primeira, a moral do crente deve ser elevada, e, segunda, deve ser firme.

Chegando à segunda seção da unidade expositiva, a saber, aos versículos 14 a 17, observamos que as diferentes partes da armadura do crente podem ser agrupadas em duas relações principais: as primeiras peças do equipamento constituem a armadura defensiva, e o último item da lista, a espada do espírito, a armadura ofensiva. A propósito, é interessante notar que a armadura não provê proteção alguma para as costas, pela razão óbvia de que o Senhor não tenciona que seus soldados jamais se virem e fujam no dia da batalha.

A seção final, versículo 18, também pode ser subdividida em duas partes. Atenção cuidadosa à primeira parte do versículo revela como a vida de oração do crente deve ser persistente, enquanto a segunda parte diz que todo esse esforço deve ser a favor de outros.

Feitas estas observações, estamos prontos para apresentar o esboço completo, com todas as subdivisões e divisões principais oriundas da mesma passagem. De acordo com a porção da Escritura a ser exposta, selecionamos como título do esboço, “A Boa Luta da Fé”.

Título: “A Boa Luta da Fé”

Assunto: Aspectos relacionados com a guerra espiritual do cren­te.

I.   A moral do crente, w. 10-14a.

1.    Deve ser elevada, v. 10.

2.    Deve ser firme, w. 11-14a.

II.   A armadura do crente, w. 14-17.

1.   Deve ter caráter defensivo, w. 14-17a.

2.    Deve também ter caráter ofensivo, v. 17b.

III.  A vida de oração do crente, v. 18.

1.   Deve ser persistente, v. 18.

2.    Deve ser intercessora, v. 18b.

Para que o sermão seja verdadeiramente expositivo, devemos interpretar ou explicar corretamente as subdivisões, bem como as divisões principais. Desta maneira o pregador cumpre o propósi­to da exposição, que é derivar da passagem a maior parte do material de seu sermão e expor seu conteúdo em relação a um único tema principal.

Selecionamos Êxodo 14:1-14 como segundo exemplo de um sermão expositivo. Não podemos, a esta altura, examinar todos os procedimentos exegéticos desta passagem, mas enquanto não os compreendermos, não estaremos preparados para empreender a elaboração de um sermão expositivo.

Entretanto, uma vez que tenhamos feito o exame cuidadoso e necessário do texto, estaremos prontos para construir um esboço da passagem bíblica. Escolhemos, como ponto principal de ênfa­se, as lições a serem tiradas do “Beco Sem Saída”, pois é óbvio que, como o povo de Israel no mar Vermelho, às vezes também nos encontramos numa situação da qual não parece haver escape ou livramento. Com esta idéia em mente, extraímos várias lições ou verdades do texto, como segue:

I.   “Beco Sem Saída” é o lugar a que às vezes Deus nos leva, vv. 1-4a.

II.  “Beco Sem Saída” é o lugar em que Deus nos prova, w. 4b-9.

III. “Beco Sem Saída” é o lugar em que às vezes falhamos com o Senhor, w. 10-12.

IV. “Beco Sem Saída” é o lugar em que Deus nos ajuda, w. 13-14.

Para que o leitor veja como estas verdades foram derivadas do texto, deve voltar à passagem uma vez mais, e examinar o desen­volvimento do esboço ponto por ponto.

Êxodo 14:1-14 não apenas oferece quatro lições principais, mas também fornece todas as subdivisões para o esboço. O texto provê, assim, a maior parte do material necessário para o sermão.

Agora apresentamos o esboço de Êxodo 14:1-14, mostrando as subdivisões sob suas respectivas divisões principais:

Título: “Beco Sem Saída”

Tema: Qual o significado do beco sem saída?

I.  “Beco Sem Saída” é o lugar a que às vezes Deus nos leva, w. 1-4a.

1.    Mediante ordem específica, w. 1-2.

2.     Para seus próprios propósitos, w. 3-4a.

II.  “Beco Sem Saída” é o lugar em que Deus nos prova, w. 4b-9.

1.    No caminho da obediência, v. 4b.

2.   Permitindo que nos sobrevenham circunstâncias difí­ceis, w. 5-9.

III.  “Beco Sem-Saída” é o lugar em que às vezes falhamos com o Senhor, w. 10-12.

1.    Por nossa falta de fé, v. 10.

2.    Por nossas reclamações, w. 11-12.

IV.  “Beco Sem Saída” é o lugar em que Deus nos ajuda, w. 13-14.

1.    No momento certo, v. 13.

2.    Tomando o controle, v. 14.

Uma vez mais, aconselhamos que o aluno compare o esboço dado acima com o texto, e veja por si mesmo que as subdivisões, à semelhança das divisões principais, foram todas sugeridas pela passagem em questão.

Baseamos nosso terceiro exemplo de sermão expositivo em um esboço sobre Lucas 19:1-10. Depois de um estudo exegético da passagem, tratamos estes versículos tendo por tema a conquista de Zaqueu, um homem “perdido”. Que diz esta passagem acerca de nosso assunto? Examinando-a cuidadosamente, descobrimos os seguintes fatos principais acerca da conquista de Zaqueu, o homem “perdido”, os quais fornecem a análise da passagem.

I.   Buscando a Zaqueu, w. 1-4.

II.    Sendo amigo de Zaqueu, w. 8-10.

III.  A salvação de Zaqueu, w. 8-10.

Examinamos a passagem mais cuidadosamente agora e consi­deramos o que o texto contém com respeito a estes pontos princi­pais. O resultado de nosso estudo revela, sob a primeira divisão principal, dois aspectos em relação com a busca de Zaqueu:

1. A busca que Jesus fez para encontrar Zaqueu foi conduzida sem estardalhaço.

2.   A visita de Cristo a Jericó estimulou o coração de Zaqueu a se interessar em vê-lo.

Na segunda divisão principal, vemos dois outros aspectos:

1.   Jesus fez-se amigo de Zaqueu, o homem que não tinha amigos (veja v. 7), convidando-se a si mesmo para ir à sua casa!

2.   O convite que Jesus fez a si mesmo para ir à casa de Zaqueu teve duplo efeito — um efeito feliz sobre Za­queu, mas um efeito desagradável sobre o povo de Jericó.

Sob a terceira divisão principal, encontramos os seguintes fatos:

1.   A salvação de Zaqueu evidencia-se pela mudança ex­traordinária que lhe aconteceu imediatamente.

2.   Cristo declara a salvação de Zaqueu em termos incon­fundíveis.

A passagem deixa claro que Zaqueu, o pecador perdido, encontrou um amigo em Jesus ou, melhor ainda, Jesus o encon­trou! Escolhemos, pois, para título da mensagem: “Conquistado Pelo Amor”.

Agora estamos prontos para organizar nosso esboço:

Lucas 19:1-10

Título: “Conquistado Pelo Amor”

I.    Buscando a Zaqueu, w. 1-4.

1.    Seu modo, v. 1.

2.    Seu efeito, w. 2-4.

II.   Sendo amigo de Zaqueu, w. 5-7.

1.    Seu modo, v. 5.

2.    Seus efeitos, w. 6-7.

III.  A salvação de Zaqueu, w. 8-10.

1.    Sua evidência, v. 8.

2.    Sua declaração, w. 9-10.

Examinando o esboço, vemos uma progressão natural de idéias, todas relacionadas com a conquista de Zaqueu, cujo clímax foi a salvação do chefe dos publicanos.

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